Quando dizemos que representatividade importa, é disso que estamos falando! Apesar de não ser negra e, óbvio, nunca ter passado por nenhuma situação de segregação racial, sinto na pele a dificuldade em trazer essa representatividade para minha irmã e assisto a cada dia a segregação invadir a vida (ainda tão curtinha) dela. Por isso repito: "REPRESENTATIVIDADE IMPORTA SIM! NÃO ME VEJO, NÃO COMPRO!”.
Algo maravilhoso está acontecendo! O número de mães negras ensinando suas filhas a se valorizarem tem crescido consideravelmente e, diariamente, vemos relatos de empoderamento negro. Nossas meninas estão aprendendo a se aceitarem, se amarem e, principalmente, a se imporem em uma sociedade que valoriza o branco e o liso.
Mas e quando a mãe é branca? O grande problema de crianças negras em famílias brancas é a falta de referência. Isso irá refletir na sua própria percepção de imagem, como não se encaixar no padrão de beleza que ela conhece – a mãe.
Para exemplificar vamos analisar essa foto. A garotinha é amada e todos os dias ela escuta alguém dizer que ela está linda. O sorriso da imagem esconde algo muito peculiar: o choro, a indignação e a negação. Essa foto teve como referência outro retrato de uma criança negra, ao perceber que iria fazer uma pose igual, a menina chorou dizendo: “Não quero tirar, porque eu não sou da cor dessa garota”.
Essa reação não foi nada além do que a expressão de um comportamento criado por falta de referências. O que estou tentando dizer é simples: a criança se espelha no que está ao seu redor. Assim, o maior desafio é empoderar uma criança negra em um lugar no qual ela não tem para admirar alguém próximo e que se pareça com ela.
Para piorar ela não vê isso na escola, porque ela é minoria lá também. E nos filmes sobre princesas que ela tanto assiste? Quais são as princesas que mais tem destaque? Quais são as princesas que estão fazendo sucesso? Qual delas a representa e destaca qualidades para que ela possa se aceitar e se enxergar bonita? Se enxergar representada?
O mais inacreditável é que esse comportamento é violentamente criado, de alguma maneira, no decorrer da vida. Nenhuma criança nasce não se aceitando, julgando-se ou querendo alisar o cabelo. Isso de alguma maneira é imposto, ou melhor, o direito de se aceitar e de se desenvolver plenamente sendo quem se é é tirado da criança...
Quando começamos a refletir sobre isso não faltam argumentos para afirmar que representatividade importa sim e que pode ajudar muito, especialmente nesses casos. No início desse ano uma imagem viralizou na internet. O brinquedo do personagem Finn, do filme “Star Wars — O Despertar da Força”, interpretado pelo ator negro John Boyega, alegrou ao menininho também negro. Sua mãe colocou a seguinte legenda na foto: “Ele nem sabe o que é Star Wars, sabe que o boneco é igual a ele”.
Algum tempo depois foi lançada a fantasia do personagem. E adivinha quem era o modelo que a ilustrava? Um menino branco. Foi então que a Crespinhos SA criou essa campanha “Não me vejo, não compro”. “Como cidadã, mãe e consumidora, tenho o direito de ter a opção de comprar produtos que se pareçam com a minha filha ou que ela seja representada ali. A gente sempre fala de representatividade, porém não faz pressão na indústria”. [Renata Morais - responsável pela agência]. Após isso a campanha ganhou adeptos rapidamente.
Mais recentemente a atriz Leslie Jones, que é uma das protagonistas da refilmagem do sucesso dos anos 80 “Os Caça Fantasmas”, em uma entrevista no The View, se emocionou ao declarar sobre a importância que a renomada atriz Whoopi Goldberg teve em sua vida. Ela afirmou que a representatividade da Whoopi, ou seja, ver a Whoopi na TV, fez com que ela tivesse coragem e inspiração para se arriscar na carreira de atriz. “Um dia eu vi Whoopi Goldberg na TV e chorei tanto e fiquei falando para o meu pai: tem alguém na TV e ela se parece comigo! Eu posso aparecer na TV, eu posso fazer isso! Olha pra ela, se parece comigo.”
Hoje o ciclo se fecha, com inúmeras garotas vendo Leslie detonando na Tv.
Quando dizemos que representatividade importa, é disso que estamos falando! Apesar de não ser negra e, óbvio, nunca ter passado por nenhuma situação de segregação racial, sinto na pele a dificuldade em trazer essa representatividade para minha irmã e assisto a cada dia a segregação invadir a vida (ainda tão curtinha) dela. Por isso repito: “REPRESENTATIVIDADE IMPORTA SIM! NÃO ME VEJO, NÃO COMPRO!”.
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Fonte: Obvious
Categoria: Comunicação, mídia e internet